quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Pressione START para começar!

Depois de algum tempo de reflexão, eu percebi que a vida não passa de um jogo, programado por Papai do Céu, oferecido à nós sem manual e que não possui lista de macetes na internet. Não estou dizendo que nós não temos escolhas, mas que todas as nossas escolhas são possíveis porque já estavam nos códigos e, por conseguinte, suas respectivas consequências.

Eu já escolhi muita coisa nesse jogo chamado Vida, mas quero falar especificamente de um que assusta muitos. Ele costuma deixar até os mais fortes completamente perdidos. Suas pernas tremem, seus lábios secam, seus rostos suam e as palavras ficam presas em suas bocas. Talvez seja o jogo em que mais se comete erros, mas também é um dos que causa mais felicidade. Este é chamado por muitos de Amor. Nome bonito, não? Essa palavra é bem engraçada, forte... Mas isso não vem ao caso. A verdade é que eu já fiz muitas escolhas erradas nesse jogo, o que me resultou em prejuízos. Armas erradas, personagens errados, caminhos errados... Tudo isso me custou algumas rodadas sem jogar, redução no meu tamanho. Eu perdi muito sangue. Com dificuldade, eu consegui sair das fases mais simples e fui para a próxima etapa, chamada Namoro. Esta sim me deu muito trabalho. Eu já repeti algumas vezes, confesso. Aqui também fiz muitas escolhas erradas e o código me levou a mais sofrimento. muitos personagens me tiraram vida e foram embora sem remorso algum. Estava no caminho errado.

Então eu parei. Não, não desisti do jogo em momento algum! Mas eu precisava me recuperar. Comi alguns cogumelos, cresci e ganhei mais vida. Não sou mais a novata de antes, eu já sei alguns truques desse jogo e está na hora de colocá-los em prática. Restartei o jogo, voltei ao começo e escolhi um novo personagem. Na verdade, ele me escolheu, mas isso também não vem ao caso. Posso ver nele qualidades que o tornam tão forte, tão nobre. Ele também tem experiências no Amor e juntos nós poderemos nos ajudarmos naquilo que o outro tem dificuldade. Nós compartilhamos cogumelos verdes e algumas armas que ainda tínhamos e ficamos muito felizes.


Atualmente, estamos numa fase difícil, escura e fria. Acidentalmente, eu cai num túnel e acabei me afastando do meu player 2. Esse portal me levou a um lugar confuso e cheio de cicatrizes que se abrem a medida que eu passo perto delas. Ele se parece muito com algo que eu tenho aqui dentro. Será o meu coração? Vejo nas paredes diversas imagens daquilo que já me causou sofrimento. São minhas velhas escolhas que voltaram para me assombrar. Mas eu não posso tocá-las. Uma voz me diz que se eu parar para arrumar, o tempo de conclusão da fase irá terminar e eu perderei meu parceiro para sempre. O jeito é ir adiante.
Tateando as ásperas paredes, eu tento encontrar a saída enquanto desvio dos obstáculos. Posso ver mais adiante um personagem especial. É o Poderoso Chefão, também conhecido como pai. Ele me causa muitos problemas até hoje, mas não é um cara mau. É só alguém que não está pronto para deixar sua bela princesinha sair e lutar sozinha. Até um tempo atrás ela não se interessava por esse jogo, o que o deixava muito mais tranquilo, mas agora ela já é adulta e tem deixado ele cada vez menos ciente de suas escolhas. A incompatibilidade com esse personagem está me deixando louca, mas O Programador Onipotente me diz para ser forte e lutar pelo Poderoso Chefão porque Ele me dará toda força necessária. Em breve estarei novamente com meu player 2 numa fase clara, bonita e perfumada aonde poderemos sorrir aliviados novamente.

O Programador, sabiamente, deixa ao longo do caminho alguns prêmios para me ajudar nas fases. São personagens especiais, conhecidos como Amigos, que me dão mais sangue e aumentam a minha resistência. Com eles ao meu lado eu posso muito mais. São todos preciosos para mim.
Ao longo da caminhada, o amor e o carinho que recebo do meu parceiro, as palavras bonitas e os sorrisos sinceros me fazem esquecer o modo Hard e só pensar na recompensa que receberei no zeramento do jogo. Eu ainda não sei o que será. Pode ser meu príncipe encantado num castelo bonito e grandioso, aonde nos casaremos e seremos felizes para sempre ou um simples e maravilhoso "eu te amo!" no final de cada dia estressante; uma taça gigante de ouro escrito "Vencedora" ou um abraço forte que me faça sentir segura toda vez que eu tiver problemas querendo me pegar. Não importa! Eu quero muito ganhar. pela primeira vez na minha vida inteira, estou motivada a jogar bem a cada dia da minha Vida.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Quando o eterno não é para sempre

  O bate-papo hoje é dedicado à uma pessoa especial que está precisando de colo, então estou aqui, como sempre estive =]
Não poucas foram as vezes em que nós nos dedicamos à alguém, seja à um amor ou à um amigo, e este nos decepcionou de alguma forma. Amizades e amores que seriam eternos, mas que hoje, não permitem nem sequer um "Bom dia!". Isso é realmente muito frustrante e nós começamos a pensar que não podemos contar com ninguém ou que a vida está nos punindo de alguma forma. E quando tudo isso nos ocorre, tentamos aliviar a tristeza jogando a culpa para cima de outras pessoas, afinal, é muito mais fácil culpar do que assumir.
Na verdade, a culpa nem chega a ser de alguém, pois nós humanos somos falhos e extremamente mutáveis, então não se pode culpar alguém por não sermos amados do jeito que desejamos. Conhecemos casos de pessoas que, de tão tristes por se sentirem abandonadas, se isolaram, ficaram doentes e sabe-se lá mais o quê. Isso só acontece quando nós somos criados de forma errada. Quem vive em sociedade tem que estar preparado para conviver com pessoas que também têm dias de fúria e, portanto, temos que aprender a lidar com os conflitos. Quem nunca teve dias em que não aguentava sequer olhar para as pessoas que mais ama nesse mundo? Nesses dias, eu busco me afastar ao máximo desses amores por medo de, por pura idiotice minha, acabar os magoando sendo que o problema é comigo.
Às vezes me pego pensando em por que pessoas a quem acolhi com tanto carinho e que as vi quando eram invisíveis me deixam de lado sem titubelar, mas aí percebo que esse pensamento é ainda mais condenável e egoísta, afinal, ninguém pertence a ninguém, nós apenas nos doamos àqueles que sentimos apresso. Por isso, eu costumo citar um pensamento que, infelizmente, não sei quem é seu verdadeiro autor: "Se você ama, deixe ir. Se a pessoa voltar é porque ela também te ama, mas se não voltar, é porque ela nunca foi sua.". Acho que não existe maior prova de amor do que deixar escolher. Prova disso é o próprio Deus, que nos deu livre-arbítrio.
Por falar em Deus, não existe frase que me deixe mais revoltada e me faça achar o ser humano tão hipócrita quanto aquela clichê da Internet: "Um brinde aos nossos defeitos porque nossas qualidades ninguém vê.". Pobres aqueles que fazem algo esperando reconhecimento vindo de outro homem e, ainda pior, ignoram O Único que reconhece seus feitos, que as ama desde antes de nascerem, que sabe de tudo que se passa em seu coração, que nunca as negou conforto na hora em que precisaram, mesmo sabendo que, quando voltassem a ficarem felizes, O esqueceriam novamente.
A vida nos traz algumas certezas e, uma delas, é que agora não será a última vez  que ficaremos tristes, mas também não será assim o tempo todo. Então comece a rever seus conceitos, dar importância à quem realmente te ama e aprender a perdoar, porque não vale a pena perder pessoas maravilhosas e esquecer anos de alegrias só por um momento de decepção. Encontrar pessoas boas é tão dificil... Não as perca jamais.

domingo, 18 de março de 2012

Dez minutos

Em outra noite voltarão a se encontrar, por acaso, no bar de sempre...
Fugiu-lhe a manhã.
Janela embaçada, toda branca: visão primeira de um despertar abrupto; na porta a campainha insistente, o sonho interrompido. Estranha sensação é acordar em cama desconhecida, olhos fora de foco, olhos de súbito arregalados para a ausência do cotidiano cenário matinal.
Descalços, seus pés pisam o chão frio, uma toalha qualquer enrola o corpo nu. Abre a porta a um vago vulto que estende para ela a consciência da situação: bandeja, pão, leite, café, laranja, geleia colorida.
Dez horas.
O homem na cama ronca e resmunga.
Pergunta-lhe se quer café, perguntando por perguntar, cansada de saber que ele não quer. Com o pão e o leite vai mastigando esta sua tristeza. Ele volta a dormir.
Chove.
Roupas em desalinho no espaldar da cadeira. Por que não se vestir e, com um beijo silencioso, sair para sempre? Por que não?
A ideia fica brincando dentro dela, marota. Imagina-lhe a surpresa a procurá-la naquele quarto, naquele hotel meio pobre, bobo e inexpressivo.
Frio.
Quase sem perceber, vai se vestindo. Enquanto se veste, antecipa e imagina: sairia sem ruído, um bom-dia seco ao porteiro espantado, espantado por vê-la sair só. Afinal, saíam sempre juntos... Ela se vê na rua, na chuva, no táxi... Chegaria, por fim, ao estacionamento, perto do bar, onde seu carro, abandonado pela madrugada, a acolheria. Antecipa o voo seguro pela avenida brilhante de chuva e de carros, caminho de casa, e seu disfarçado vingando riso ao pensar nele acordando sozinho, surpreso, um tanto ridículo a zanzar pelo quarto, em sua nudez absurda.
Chove. Leva muito tempo diante do espelho na inútil tentativa de arrumar os cabelos despenteados de tanto acariciados, embaraçados pelo amor furioso, faminto, louco, absolutamente feliz.
Feliz.
Olha pra ele, no fundo do espelho refletido. Há de acordar e leva-la até seu carro. Na despedida, aquele beijo frio, a promessa de um telefonema que - ela sabe - não haverá. Nenhum resíduo de calor nas mãos, nenhuma ternura nos olhos.
Em outra noite qualquer voltarão a se encontrar, por acaso, no bar de sempre. Para que então tudo se repita. Novamente acordar sobressaltada, a campainha a interromper-lhe os sonhos; novamente mastigar com pão e café a sua tristeza.
Não
Não quer mais ouvi-lo, decide. Não mais suportar-lhe o ridículo medo de amar. Fanfarronice de menino grande a gabar-se de seus trinta e cinco anos de liberdade, não mais suportar. Não mais desdobrar-se, ora em companheira, ora em potencial inimiga. Não mais obrigá2-lo a pensar, reformular, contestar-se a si próprio.
“Você bagunça minha mente”- costuma ele dizer, tentando, sem graça, gracejar.
Atira com raiva a escova de cabelo para dentro da bolsa.
Vai embora. Não pode amar um homem assim. Seus mundos são paralelos. Ele não a merece. Não mercê a sua ternura tão bem guardada, um carinho que resistiu, resistiu, resistiu... Não merece este amor tão grande e tão rico, fruto de toda a sua vivência, fruto de tantos amores outros.
Não. Não foi para ele que tanto ela se guardou. Seu universo ilimitado – pensa ela – nada significa para este homem medroso, ancorado em seus valores falidos, em sua vida sem surpresa ou esperança; vida segura, povoada de rótulos e estereótipos, onde tudo é previsível e há um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar. N o uísque o no futebol, sufocados a duras penas os fantasmas do imprevisível. Esquecido o risco do envolvimento, do entendimento, da emoção, da descoberta, do encontro.
Esquecida alegria.
Chove.
Escurece, lá em baixo, a cidade.
Corajosa, ela calça as pesadas botas, joga o xale sobre os ombros e prepara-se para enfrentar a rua, a chuva, o frio, a briga pelo táxi. Depois, liberdade. Bem depressa o dia a dia apagará qualquer lembrança desta felicidade tão fugidia, breve, estúpida.
Um último olhar ao espelho, a ajeitar a roupa, surpreende-o a observá-la do outro lado. Entre o sono e espanto, ele pergunta:
- Por que toda essa roupa?
- Tenho frio.
-Você quer ir agora?
- Quero.
Ele suspira. Estende a mão e apanha o relógio sobre a mesa de cabeceira. No movimento, deixa expostos os músculos, o corpo. Bonito. Dez e dez.
Chove. Escurece.
Ela inventa compromissos. Com os olhos, ele pede. Ela vai mentido horários a cumprir enquanto ele acende um cigarro. Ela observa: as mãos dele, os lábios dele.
De súbito, seu corpo perdoa todas as mágoas.
Ri de si mesma.
- Eu ia embora – diz ela de manso – deixar você aí sozinho, dormindo.
Ele sorri para ela. Um sorriso condescendente tal qual pai ante travessura infantil.
- Vem cá. – ele diz.
O corpo dela se encaixa certinho dentro do abraço dele. Se esconde e enterra o rosto no ombro dele, a voz dela sai sufocada:
- Preciso esquecer você.
E, lentamente, começa a se despir.




♦ Texto enviado pelo leitor Arthur Boldrini, a quem mando um beijo e agradeço publicamente pela participação aqui no blog.